LAPA – História e Arte no PARANÁ
No dia 15
de outubro de 2014, as turmas do 2º e 4º anos do Curso de Licenciatura em Artes
Visuais tiveram o privilégio de realizar viagem de estudos ao município
paranaense da Lapa, cidade de notável importância no cenário histórico,
artístico, político e cultural brasileiro.
Com origem ligada ao tropeirismo, a Lapa é uma
das cidades mais antigas do Estado do Paraná e mantém seu Centro Histórico com
características originais. As ruas de paralelepípedos, as réplicas de
luminárias antigas e construções em estilo colonial português dos séculos XVIII
e XIX encantam os visitantes. Nas ruas e nas casas estão vivas as memórias de
um episódio que marcou a trajetória política brasileira e que ficou conhecido
como Cerco da Lapa.
A
cidade nasceu fruto do caminho das tropas, rota que vinha do Rio Grande do Sul,
mais especificamente da cidade de Viamão, com destino a Sorocaba, em São Paulo,
para venda e comércio, em sua maioria, de animais. Ao longo deste caminho foram
se estabelecendo vários “pousos” ou “invernadas”, locais apropriados para a
engorda do gado antes de prosseguir viagem. Esses fatores, fundamentais para o
povoamento, atraíram os primeiros habitantes da Lapa - João Pereira Braga e sua
mulher e Josefa Gonçalves da Silva. A presença, na margem do Rio Iguaçu, do
Registro de Curitiba – posto construído para cobrança de direitos sobre a
passagem de animais – fazia com que os tropeiros permanecessem mais tempo,
criando condições para o início do povoamento.
Após a Proclamação da República, em
1889, surgiram desavenças em vários pontos do país, a exemplo de Minas Gerais,
Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul. O Marechal Deodoro renunciou e o
vice-presidente, Marechal Floriano Peixoto, ocupou seu lugar, acreditando que
essas desavenças nas diferentes províncias cessariam naturalmente, o que não
aconteceu. A insurreição iniciou-se no Rio Grande do Sul, quando
revolucionários federalistas, seguidores de Silveira Martins, incitam uma
guerra contra o governo de Floriano Peixoto. Para contê-la, uniram-se os
republicanos, liderados por Júlio de Castilhos e, por esse motivo, chamados
“castilhistas”. Não havia uma causa incontestável para a revolução, mas três
possibilidades: críticos do regime republicano, que ansiavam pela volta da
monarquia; partidários do regime republicano, mas que queriam outro líder, que
não Floriano Peixoto, e aqueles que eram a favor de outras formas de governo,
menos centralizadas, como o presidencialismo moderado ou o parlamentarismo
republicano. Gumercindo Saraiva, posterior líder da Revolta que sitiou a Lapa,
participou das primeiras batalhas contra os castilhistas, em 1893, no Rio
Grande do Sul. De lá, ele e suas tropas partiram para Santa Catarina e Paraná.
Essa rota era obrigatória para atingir a então capital do Brasil, o Rio de
Janeiro. Estava instaurada a guerra entre “maragatos”, federalistas contrários
ao governo, e “pica-paus”, os republicanos. Os federalistas receberam tal
denominação porque parte deles era oriunda de Maragateria, na Espanha. Já os
pica-paus eram assim chamados pela semelhança de sua vestimenta, com divisas
brancas e boné vermelho, com a plumagem do pássaro.
Diante da constatação de que seria
impossível a pacificação no Sul, o Marechal Floriano Peixoto enviou Francisco
de Paula Argolo para comandar o 5º Distrito Militar. Em outubro de 1893, o
general Argolo reuniu uma força expedicionária em Curitiba e seguiu para a
Lapa, onde foi recebido por Joaquim Lacerda. Além da Lapa, havia tropas de
resistência republicana em Paranaguá e Tijucas. As cidades de Tijucas e
Paranaguá não resistiram aos invasores e restou à Lapa conter o avanço dos
federalistas. No dia 02 de dezembro, o General Argolo passou o comando ao
Coronel Antônio Ernesto Gomes Carneiro.
No dia 14 de janeiro de 1894 foram
avistadas na estrada de ferro as forças atacantes, com aproximadamente 1.200
homens. Em 17 de janeiro tiveram início os ataques à cidade, que resistiu
bravamente por 26 dias, com um exército de 900 homens. A Lapa ficou sitiada,
sem comunicação com o exterior e sem possibilidade de fuga, já que as estradas
de ferro e de rodagem estavam interceptadas. Faltava comida, água e os
cadáveres em decomposição exalavam mau cheiro. Mesmo assim e apesar das
notícias de que os revoltosos tinham tomado outras cidades do Paraná, Gomes
Carneiro não aceitou conversar com qualquer emissário a respeito da rendição. A
capitulação somente ocorreu no dia 11 de fevereiro, dois dias após a morte do
General, que fora gravemente ferido durante combate. Em seu leito de morte, repete:
“Resistência, resistência... Resistamos camaradas, porque nós, soldados, não
temos direitos, mas apenas deveres a cumprir, e os deveres de um soldado
resumem-se em um único, queimar o último cartucho e depois morrer”.
Os dias em que as tropas republicanas
resistiram foram o suficiente para que o Marechal Floriano Peixoto guarnecesse
a cidade de Itararé, em São Paulo, e preparasse a defesa para impedir o avanço
de Gumercindo Saraiva em direção ao Rio de Janeiro. Os restos mortais desses
guerreiros, entre eles do General Gomes Carneiro, estão depositados no “Panteon
dos Heroes”, um dos símbolos da Lapa e mais importante monumento cívico do
Paraná.
O Cerco da Lapa contribuiu na fortificação
e reestruturação da cidade de Curitiba, que também foi alvo deste conflito
sangrento. Figura de vital relevo foi o Barão do Serro Azul (grafia original),
que se viu na delicada posição de anfitrião forçado dos Maragatos. Para contar
essa passagem da história, em 2003 foi lançado o filme O Preço da Paz, dirigido por Paulo Morelli e com roteiro de Walter Negrão, baseado no livro de Túlio Vargas. A produção retrata um dos momentos mais importantes da história do Brasil, a Revolução Federalista e as suas consequências quando em terras paranaenses,
principalmente na capital, Curitiba. No Festival de Gramado 2003 (Brasil), o filme venceu nas categorias
de melhor montagem, melhor direção de arte e prêmio do Júri Popular, e na Mostra
de Cinema de Tiradentes 2004 (Brasil) ganhou o Troféu Barroco na
categoria de melhor longa-metragem no Prêmio do Júri Popular. Em seu elenco artistas
de renome: Lima
Duarte (Gumercindo Saraiva); Herson Capri (Barão do Serro Azul); Giulia Gam (Baronesa
do Serro Azul); José de Abreu (Cezário); Camila Pitanga (Anésia);
Danton Mello (Daniel);
Alexandre Nero (Alferes Pimentel).
Quem vem ao Paraná deve conhecer a
história destes heróis da Pátria, que lutaram por uma causa em que acreditavam.
Na Lapa verão o palco de uma luta de um povo e sentirão, em suas ruas, uma
parte da história desta grande gente do Paraná.
http://pt.wikipedia.org/wiki/O_Pre%C3%A7o_da_Paz
Autoria de Alana Águida Berti e Andréa Varassin Caldas