PARA ENTENDER O HIBRIDISMO....
O nascimento de um meio é sempre caracterizado de outros meios antecedentes, assim sendo consideramos todos os meios como híbridos na em sua essência. “ O surgimento do novo sacode as crenças estabelecidas e obriga o retorno às origens. Arlindo Machado(2001,p.121).
Expressões como híbrido, hibridismo, hibridação, hibridização são encontradas constantemente na área das artes. Porém, são palavras que provêm de outros campos de conhecimento e que, segundo Santaella (2008), podem ser “aplicadas, por exemplo, às formações sociais, às misturas culturais, à convergência das mídias, à combinação eclética de linguagens e signos e até mesmo à constituição da mente humana”
Para Santaella (2003), em se tratando de arte, “são muitas razões para esse fenômeno da hibridização, entre os quais devem estar incluídas as misturas de materiais, suportes e meios.”
PINTURA
Segundo Philippe Dubois (1994,p.117-23) A pintura sempre buscou retratar a representação. O desejo da representação da imagem da figura humana, da sombra humana, vindo da ânsia de se perpetuar uma presença.A pintura tinha a pretensão de garantir o semblante de seus modelos.
FOTOGRAFIA
Fotógrafos acham que o retoque era o ajuste necessário a conceder à fotografia um grau de “indeterminação”, similar ao procedimento da pintura.
Segundo Dubois (1994,p.28), existiram manifestações e razões dos artistas contra a dominação da indústria técnica da arte, um afastamento da criação e o criador, contra a fixação do “sinistro visível”. Alguns afirmavam que a arte jamais poderia ser substituída por um meio mecânico, já que era espiritual.
Baudelaire, segundo Dubois (1994,p.30), defendia que a fotografia era um auxiliar da memória, que servia como simples testemunha do que foi.
Selma Simão diz “que o fotógrafo vê de determinada forma o assunto à sua frente e, pelo enquadramento, determina o que será cortado ou incluído, sobrepondo ou não objetos, dependendo do ângulo, da tomada”.
Penso que, a observação, a perspectiva, o ângulo fotográfico para cada pessoa tem sua importância, pois, além de ser referência para a criação de um trabalho, diz respeito às vivências, às preferências, ao universo pessoal de cada um...
Segundo Dubois (2008), a foto não é apenas uma imagem, pois não se limita somente ao gesto, ao ato fotográfico, mas ao “ato de sua recepção e contemplação”.
Para Soulages (2007), “o ato fotográfico é entendido geralmente como humano, referente a atos humanos, a escolhas humanas”. Assim, o ato fotográfico vai muito além do registro da imagem.
A partir dessa ideia, da mistura de objeto e técnicas diferenciadas é que criamos a obra titulada como Nossos olhares. Acredito que o hibridismo presente na obra, nos deu condições e possibilidades de ir além da fotografia e criar algo novo. Uma nova imagem.
Rasgar uma foto ou interferir nela de alguma forma é triste, principalmente quando a imagem é linda! Mas ficar pensando em como continuar a outra metade é doido e ao mesmo tempo curioso. Quando se trata de montagem para criar uma nova imagem nos parece mais fácil pelo fato de que é pintar a tela e introduzir uma nova imagem. Mesmo assim é uma nova sensação de medo, um nó na garganta que insiste em se perguntar, mesmo que inconscientemente: “será que vai ficar legal?”
O meio fotográfico, por sua vez, coloca na pintura elementos que lhe são particulares: documentos objetivos, fragmentos da realidade, registros instantâneos, congelamento do movimento, retenção de tempo em imagem e memória do mundo. Esse hibridismo aponta um caminho de reflexão, já que, tecnologia digital invadiu o universo fotográfico e outros processos de produção imagética, tornando o hibridismo uma característica generalizada.
Texto escrito por: SELMA MACHADO SIMÃO - ARTE HÍBRIDA
Entre o pictórico e o fotográfico.
editora: Unesp, 2008. SP.