O palhaço carrega uma gama de subjetividades em si, sua personalidade,
que também demonstra uma visão de mundo diferenciada, que é compilada, também
na estética de sua construção visual.
A construção visual clássica do
palhaço, numa referência ao tipo Augusto, pode estar associada
à figura do marginal, do miserável. Assim como Bolognesi (2003) aponta-nos em
seus estudos, que em meio ao contexto da Revolução Industrial, Augusto
“impôs-se como estilização da miséria”, por ser o tipo que não consegue
realizar uma simples tarefa. Augusto não estava inserido no contexto do
progresso industrial, era inútil. Este fato culminou com o surgimento do gênero
Tramp (Vagabundo) nos Estados Unidos. Diversos pesquisadores[1] contam que se
estabeleceu uma relação entre o palhaço Branco, com as pessoas de classe social
superior, e obviamente, Augusto, seu contraponto. Percebemos então, que este
palhaço, sempre se esteve ligado a esta perspectiva de miséria. Seus signos,
apontados por Bassi, também demonstram seu status de perdedor.
Hugo Possolo ao falar sobre o surgimento de Augusto[2] destaca que o nariz
vermelho, representa o desequilíbrio, tanto emocional, físico, ou moral, que o
bêbado e o palhaço têm incomum - Leo Bassi faz a mesma menção ao bêbado,
marginal, ao perdedor:
O palhaço é aquele que perdeu. Seu nariz é vermelho,
porque com o tempo se embebedando de vinho nas ruas frias, o choro e as quedas,
o nariz fica realmente vermelho. Suas roupas são desproporcionais e seus
sapatos são grandes porque não lhe pertencem. O palhaço é aquele que perdeu a
dignidade. Mas somente quem perde totalmente a dignidade pode atingir uma outra
condição de dignidade, e isso acontece quando ele reconhece e aceita sua
derrota, sem mágoas, sem culpar ninguém pelos seus fracassos, sem autopiedade.”
(LIBAR, 2008, p.174)
O nariz do palhaço, a menor máscara do mundo. “A que
menos esconde e mais revela” (BURNIER, 2001,
p.218). De acordo com José Regino[3], em todas as culturas
do mundo que utilizam máscaras, para se compreender o significado de
determinada máscara, o sujeito obrigatoriamente tem que estar inserido nesta
cultura, ou buscar um conhecimento aprofundado sobre a mesma. A do palhaço não,
em qualquer lugar do planeta, se um sujeito coloca esta “bola vermelha” no
nariz, todos saberão que é um palhaço e o que ele representa.
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